Religião e Poder: Tensões no Brasil Contemporâneo

Religião e política no Brasil formam uma aliança complexa que afeta diretamente a democracia, os direitos sociais e a laicidade do Estado. Descubra como essa relação molda decisões públicas, alimenta tensões e influencia a vida da população

6/29/20254 min read

🕊️ Religião e Política no Brasil Contemporâneo: Dinâmicas Ocultas, Tensões Democráticas e Perspectivas para o Futuro

Qual é a relação entre religião e política no Brasil atual?

A interação entre religião e política no Brasil tem se tornado cada vez mais intensa. Igrejas influenciam decisões eleitorais, moldam políticas públicas e mobilizam milhões de fiéis em torno de causas morais, sociais e partidárias.

✝️ Contexto Histórico: Como começou a influência religiosa na política?

A relação entre instituições religiosas e o Estado brasileiro remonta ao período colonial. Durante o regime do padroado, a Igreja Católica atuava como braço do Estado português, sendo responsável por registros civis, educação e normatização da moral pública.

Mesmo após a Proclamação da República (1889), que estabeleceu oficialmente o Estado laico, a influência da religião permaneceu forte na cultura e na legislação — como exemplifica o ensino religioso nas escolas públicas e o preâmbulo da Constituição Federal que invoca “Deus”.

A partir da década de 1980, com a redemocratização e a explosão do crescimento evangélico, um novo ator político entrou em cena: as igrejas evangélicas neopentecostais, com estratégias de ocupação institucional, mídia própria e alianças com o poder público.

⛪ Por que as igrejas evangélicas cresceram na política?

A expansão evangélica na política se dá por vários fatores:

  1. Organização comunitária eficiente
    Templos funcionam como redes de apoio espiritual, emocional e material.

  2. Narrativas de identidade e pertencimento
    Reforçam valores familiares e combatem pautas consideradas “inimigas da fé”.

  3. Uso estratégico da mídia
    Igrejas como a Universal do Reino de Deus controlam canais de TV, rádio e redes sociais com forte alcance político.

  4. Engajamento eleitoral disciplinado
    Pastores indicam candidatos a seus fiéis, com alto grau de eficácia na transferência de voto.

Como a religião influencia eleições e políticas públicas?

A religião influencia diretamente:

  • Campanhas eleitorais com discursos morais, defesa da “família tradicional” e oposição a direitos sexuais e reprodutivos;

  • Formação de bancadas parlamentares religiosas, como a Frente Parlamentar Evangélica;

  • Debates sobre projetos de lei, como o Escola Sem Partido, PL do aborto, criminalização da homofobia e educação sexual;

  • Decisões executivas e vetos com base em doutrinas religiosas, muitas vezes acima de evidências científicas.

Esse processo tem gerado críticas por violar os princípios do Estado laico e comprometer a neutralidade política institucional.

O que dizem as pesquisas sobre fé e voto?

Pesquisas do Datafolha e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) mostram que:

  • Mais de 40% dos evangélicos votam seguindo orientações religiosas;

  • Candidatos evangélicos têm maior taxa de fidelização entre eleitores de baixa renda;

  • O fator religioso influencia mais do que propostas econômicas ou sociais em algumas regiões.

Essa realidade exige um debate profundo sobre liberdade de crença x uso político da fé.

🤝 Existem iniciativas positivas de diálogo inter-religioso?

Sim. Apesar da polarização, existem redes que promovem a convivência plural e o respeito entre diferentes tradições. Alguns exemplos:

  • Rede Ecumênica da Juventude: mobiliza jovens religiosos em torno da cidadania ativa;

  • Fórum Inter-religioso por uma Cultura de Paz: articula ações de fé e política pública sem partidarismo;

  • Cristãos contra o Fascismo: coletivo progressista evangélico que denuncia o uso da fé como instrumento autoritário;

  • Terreiros de Candomblé e Umbanda que dialogam com o poder público para combater intolerância religiosa.

❌ Quais são os principais riscos dessa mistura?

A instrumentalização da fé para fins políticos traz consequências preocupantes:

  • Retrocesso de direitos civis (principalmente para mulheres, LGBTQIA+, religiões afro);

  • Ameaças à democracia por parte de lideranças messiânicas que rejeitam o pluralismo;

  • Monopolização do discurso moral, excluindo visões divergentes em nome de uma “verdade divina”;

  • Perseguição religiosa disfarçada de liberdade de expressão, como no caso de ataques a terreiros ou a cultos afro-brasileiros.

O Brasil é mesmo um Estado laico?

Sim, juridicamente, o Brasil é um Estado laico. Mas na prática, a laicidade é frequentemente violada:

  • Abertura de sessões parlamentares com orações cristãs;

  • Presença de símbolos religiosos em tribunais públicos;

  • Apoio governamental a eventos religiosos específicos;

  • Candidaturas religiosas com apoio estrutural de igrejas, desbalanceando o processo democrático.

🗳️ Religião e Voto: Como equilibrar fé e democracia?

É possível que a fé inspire valores éticos, mas o voto deve ser guiado pelo bem comum, não por dogmas. Para isso, é necessário:

  1. Educação política nas igrejas, com respeito à pluralidade;

  2. Separação clara entre púlpito e palanque;

  3. Acompanhamento do eleitor sobre o uso da religião em campanhas;

  4. Reforma política que impeça abuso de poder religioso.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. O que significa Estado laico?

Um Estado laico garante que nenhuma religião será privilegiada pelo poder público, promovendo liberdade e igualdade religiosa.

2. Pastores podem indicar candidatos?

Podem opinar, mas não devem usar templos, cultos ou verbas da igreja para fins eleitorais, sob risco de sanções jurídicas.

3. Existe bancada católica também?

Sim. Além da bancada evangélica, há parlamentares católicos conservadores com forte atuação política, embora menos estruturados institucionalmente.

4. Candomblé e Umbanda têm representação política?

Ainda muito pequena. Essas religiões enfrentam racismo estrutural, invisibilidade midiática e poucos representantes eleitos.

5. O STF já julgou temas religiosos?

Sim. Casos como ensino religioso confessional, criminalização da homofobia e aborto de anencéfalos foram pautados no Supremo Tribunal Federal com intenso lobby religioso.

Perspectivas para o Futuro: Pluralismo, Ética e Democracia

Como construir um futuro mais saudável entre religião e política?

O caminho passa por pactos democráticos e valorização da diversidade religiosa:

  • Fortalecer o ensino laico, crítico e inclusivo nas escolas;

  • Promover campanhas contra a intolerância religiosa;

  • Incluir religiões minoritárias em conselhos de políticas públicas;

  • Comprometer políticos a não usarem a fé como moeda de troca eleitoral.

A fé pode ser fonte de compaixão e justiça — mas nunca de exclusão, manipulação ou controle do Estado.

✅ Conclusão

A relação entre religião e política no Brasil é complexa, histórica e carregada de tensões. No entanto, é possível construir uma convivência democrática saudável, desde que se respeite a laicidade do Estado, a liberdade de crença e os direitos das minorias religiosas.

Defender o Estado laico não é ser contra a fé, mas garantir que nenhuma fé se sobreponha à democracia.

✍️ Artigo escrito por Aldemir Pedro de Melo
📅 Publicado em: Julho de 2025
🌐 Blog: Religião na Política